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Financiamento climático aumentou 73% na última década

Considerado um dos meios de implementação da agenda de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, o financiamento climático cresceu em volume e diversidade de produtos e serviços financeiros oferecidos nos últimos dez anos. Segundo o último monitoramento realizado pela Climate Policy Initiative (CPI), os investimentos globais em baixo carbono ultrapassaram meio trilhão de dólares, atingindo US$ 632 bilhões em 2019/2020. Esse valor era de US$ 364 bilhões em 2011/2012 e representa um crescimento de 73%.

A maior parte desses investimentos vem sendo realizada nas áreas de energias renováveis, com foco na energia solar fotovoltaica e na energia eólica, na área de transporte de baixo carbono, com foco no transporte rodoviário privado – veículos elétricos, baterias e carregadores – e em infraestrutura, que totalizou US$ 27,7 bilhões de investimentos.

A expectativa é de que o montante continue em crescimento. E, de acordo com o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo, o Brasil tem grande potencial para atrair esses novos investimentos, pois o país abriga diversos tipos de fontes de energia renováveis e uma vasta biodiversidade.

“Para o Brasil, que possui diferenciais competitivos em relação aos seus principais competidores internacionais, é grande o potencial para a geração de novos negócios que contribuam para a consolidação de uma economia de baixo carbono. A indústria, tendo em vista seu potencial de geração de emprego e renda, pode ser uma grande alavancadora desse processo”, explica Bomtempo. Ele destaca ainda que os baixos índices de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) da indústria nacional, frente a competidores internacionais, abre oportunidades para investimentos no país.

Sob a ótica do investidor, a crescente integração dos critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) nas estratégias das empresas tem o potencial de direcionar recursos para o atendimento dos grandes desafios socioambientais do país, em especial os relacionados à infraestrutura, e contribuir para que a transição para uma economia de baixo carbono no país aconteça de forma gradual, resiliente e inclusiva.

Pré-requisitos sociais e ambientais

Para ter acesso à liberação de recursos financeiros para investimentos em baixo carbono, a maioria das instituições financeiras o condiciona ao cumprimento de aspectos sociais e ambientais do projeto e da empresa contratante.

“Um primeiro ponto importante para a submissão de projetos às instituições financeiras, seja na forma direta ou via edital, é saber se as atividades econômicas da empresa e/ou do projeto estão aderentes ao que é financiado pelo instrumento financeiro. Esses critérios variam, cabendo ressaltar que não estão restritos apenas às dimensões físicas ou ambientais dos investimentos”, detalha Davi Bomtempo.

As avaliações realizadas para a concessão de financiamentos climáticos variam para cada tipo de instrumento financeiro e de acordo com a complexidade dos projetos. Essas fases podem compreender avaliações de riscos e impactos socioambientais, passando por consulta às partes interessadas, monitoramento de conformidade socioambiental do projeto para desembolso dos recursos financeiros, além da tradicional avaliação econômica ou com foco nessa última etapa.

Exempos de fundos de financiamento

O financiamento público para o clima aumentou 7% em 2019/2020 em relação a 2017/2018, segundo relatório do CPI. As Instituições Financeiras de Desenvolvimento (IFDs) fornecem a maior parte das finanças públicas, contribuindo com 68%. A participação das instituições financeiras estatais aumentou para 14% em 2019/2020 e os fluxos financeiros diretos (domésticos e internacionais) de governos aumentaram 17%, representando 12% dos fluxos públicos, impulsionados por transportes de baixo carbono.

Segundo o monitoramento da CPI, 61% dos financiamentos climáticos foram levantados como dívidas, somando US$ 384 bilhões. Em segundo lugar estão os investimentos em ações, que atingiram 33% do total de financiamento climático. Já o financiamento de doações foi de 6% dos fluxos totais.

Um exemplo de fundo de financiamento é o IDB Invest, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), destinado a financiar iniciativas do setor privado. Neste fundo, todos os projetos apoiados precisam cumprir rigorosos padrões de integridade, transparência e responsabilidade social e ambiental, mesmo que não estejam diretamente ligados à temática da sustentabilidade. Para os projetos que tenham como objetivo específico a atuação em áreas diretamente ligadas à sustentabilidade, são oferecidas condições diferenciadas de custo e/ou prazo, visando à promoção das iniciativas de desenvolvimento sustentável.

Outro fundo é o DEG Invest, uma subsidiária do Grupo KFW e uma das maiores instituições financeiras de fomento ao desenvolvimento para empresas privadas do mundo. O fundo possui duas linhas de financiamento, sendo uma comercial e outra de apoio. A linha de apoio oferece recursos a fundo perdido.

Já o Fundo Global para o Meio Ambiente Francês (FFEM) foi criado pelo governo francês para financiar projetos de inovação com foco na sustentabilidade e na proteção ambiental de países em desenvolvimento. O fundo encoraja iniciativas inovadoras e projetos-piloto que atuam em resposta aos desafios globais e que trazem benefícios ambientais, econômicos e sociais para que as soluções mais eficazes possam ser implantadas em outros locais ou em maior escala. O foco é em projetos e empresas de pequeno e médio porte.

Para saber mais sobre os fundos, a CNI criou um documento para orientar empresários quanto aos aspectos operacionais, econômicos e de sustentabilidade para o acesso a fontes de financiamento em baixo carbono aplicáveis à indústria.

Confira o documento completo aqui

Brasil possui mais de 40 linhas de financiamento em sustentabilidade

Outro material elaborado pela CNI, por meio do Núcleo de Apoio ao Crédito, é o e-book “Critérios ESG e Soluções Financeiras”, um passo-a-passo útil e prático para orientar as empresas que desejam ampliar sua competitividade, incorporando as práticas ESG nas suas estratégias corporativas. O material detalha mais de 40 linhas de financiamento ligadas às práticas ESG de 11 instituições financeiras.

São exemplo crédito para compra de sistemas para geração de energia solar; para o setor de biocombustíveis, com incentivo à melhoria da eficiência energético-ambiental e certificação da produção; apoio a projetos de investimento em concessões públicas de parques naturais ou urbanos e de concessões florestais; linha para aquisição de inversores, placas de captação e serviço de montagem e instalação de sistema de energia fotovoltaica, para empresas, residências ou propriedades rurais; apoio ao desenvolvimento de produtos, processos e serviços inovadores para a cadeia automotiva; entre outros.

Veja as linhas de financiamento aqui

Financiamento e COP27

O financiamento climático foi considerado o maior avanço da COP27, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que aconteceu em novembro de 2022 no Egito. Os cerca de 200 países que participarem do fórum global definiram a criação de um fundo para compensar perdas e danos decorrentes dos efeitos adversos das mudanças climáticas, o que inclui migrações forçadas por desastres naturais, impactos no patrimônio cultural, na mobilidade e nas vidas e meios de subsistência das comunidades afetadas. Não há, contudo, acordo sobre quem financiará. O acordo prevê a criação de uma “comissão de transição” para operacionalizar o mecanismo, identificar as fontes de financiamento e definir os termos de acesso aos recursos até a COP28.

Não houve avanço em relação à mobilização conjunta de recursos da ordem de US$ 100 bilhões por ano por parte dos países desenvolvidos para ações de mitigação. O texto final da COP27 destaca que uma transformação global para uma economia de baixo carbono exige investimentos de pelo menos US$ 4 a 6 trilhões por ano e que a entrega desse financiamento exigirá uma transformação do sistema financeiro e suas estruturas e processos, envolvendo governos, bancos centrais, bancos comerciais, investidores institucionais e outros atores financeiros.

Fonte: Indústria Verde