SUSTENTABILIDADE

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Carreiras ESG estão em alta (zero surpresa…)

No início dos anos 2000, quando comecei a trabalhar com questões sociais e ambientais, pouca gente entendia o que eu fazia. Quando dizia que trabalhava com “sustentabilidade”, invariavelmente, eu tinha que continuar a frase explicando o que isso significava. Hoje, ESG é tema de jornais de negócios e reuniões de conselhos de administração. Esses, sem dúvida, são fortes sinais de que esta agenda ganhou espaço, relevância e importância estratégica nas empresas. Várias forças interagem ao mesmo tempo para fazer essa roda girar: investidores, consumidores, clientes, funcionários, legisladores, sociedade civil, mídia. Cada um a seu tempo e intensidade, mas fato é que a pauta ESG não pode ser – e não é – mais ignorada.

Em relação aos jovens, costumo dizer que eles já “nascem com o chip da sustentabilidade”. Práticas que a minha geração teve que trabalhar muito para introduzir como, por exemplo, coleta seletiva de materiais (sim, houve um tempo em que não separávamos nem reciclávamos o lixo), são ponto pacífico para eles.

No mercado de trabalho, não poderia ser diferente. As pesquisas mostram que os novos talentos escolhem o local onde vão atuar com base na agenda ESG. Mais: 71% aceitariam um corte salarial para estar em um local que se alinhe mais aos seus valores, segundo a publicação “Futuro do Trabalho”, da Korn Ferry.

E os empregos “verdes” estão em alta. Segundo o estudo “Os jovens buscam a economia verde”, realizado pela Accenture com 29.500 participantes entre 15 e 29 anos, em 18 países, em maio de 2021, é esperada a geração de 22,5 milhões de oportunidades em agricultura e produção de alimentos, eletricidade renovável, produtos florestais, construção e manufatura, nos próximos 10 anos. Os brasileiros, vejam só, são os que mais aspiram a esses cargos: 88% disseram querer trabalhar na economia verde, contra 57% na Europa e 52% nos Estados Unidos.

Mas isso já é verdade hoje. O Brasil emprega mais em energia renovável do que a União Europeia: dos 12.677 empregos diretos e indiretos no mundo, 1.272 são no nosso país, contra 1.242 na UE (Dados de 2021; fonte: Renewable Energy and Jobs – Annual Review 2022). Pouca diferença numérica. Mas, quando colocamos na balança as realidades e desafios locais, sabemos o que isso significa.

Se são criadas mais vagas relacionadas à sustentabilidade, esses profissionais, consequentemente, são mais procurados. Dois estudos comprovam isso. A consultoria em RH, PageGroup, realizou levantamento com PMEs de 14 setores e chegou à conclusão que entre as carreiras mais promissoras em 2023 estão: Chief Sustainability Officer ou Diretor de Sustentabilidade, Head de Sustentabilidade, Diretor Financeiro e de ESG, Gestor de projetos para carbono e eficiência e especialista em ESG (Fonte: Caderno Prática ESG, do Valor Econômico).

Os pesquisadores do LinkedIn Economic Graph examinaram milhões de empregos iniciados por usuários do LinkedIn de 1º de janeiro de 2018 a 31 de julho de 2022 para calcular uma taxa de crescimento para cada cargo. A lista “Empregos em Alta em 2023” aponta os 25 que apresentaram maior elevação nos últimos cinco anos, além das tendências que definem o futuro do mercado de trabalho. Gerente de Sustentabilidade é um desses cargos. Outros dados desta função: das contratações em 2022, 62% eram mulheres e 38%, homens. As principais posições ocupadas antes da contratação eram: coordenador de sustentabilidade, consultor de sustentabilidade e gerente ambiental.

Sim, as novas gerações buscam essas vagas. Mas não só elas. Profissionais experientes de outras áreas também seguem nessa direção, deixando carreiras consolidadas para começar em ESG. Vivo isso no dia a dia. Muita gente com este perfil me procura pedindo dicas e conselhos para entrar na área. Aliás, isso até rendeu um artigo meu aqui no blog: “Como começar em ESG”.

Uma matéria interessante na Bloomberg Green de 5 de janeiro identificou esse pessoal como “Climate Quitters”, ou seja, pessoas que saem de suas ocupações para atuar em prol do clima e temas correlatos. Mas, a matéria informa, enquanto os empregos verdes aumentaram a um ritmo anual de 8% desde 2015, de acordo com pesquisa do LinkedIn de 2022, o “talento verde” cresceu apenas 6% ao ano durante esse período. É um alerta para a importância da capacitação. Oferta de cursos nestas áreas não é o problema. Cada vez mais, as escolas de negócios oferecem opções.

Esse aumento no leque de vagas também é visto no mais alto nível de governança, os conselhos de administração. Além de recrutarem pessoas com essa expertise para serem conselheiras (eu sou um exemplo vivo disso), as empresas montam também comitês de sustentabilidade para assessorar os conselhos. A 17ª edição do estudo “A Governança Corporativa e o Mercado de Capitais”, da KPMG e ACI Institute, realizada com 293 companhias abertas no Brasil, mostra que cresceu de 37 para 44 o número comitês de sustentabilidade, de 2021 para 2022. Este é o quinto comitê mais frequente, atrás dos tradicionais comitês de auditoria, pessoas, finanças / investimentos e riscos. #vivipraver!

Encerro esse artigo com um dado da realidade que pode parecer banal, mas que mostra o quanto essas carreiras ESG estão fortalecidas. Em julho do ano passado, a Mattel lançou a “2022 Barbie Career of The Year – Eco-Leadership Team”, um time de quatro bonecas Barbie formado por Diretora de Sustentabilidade, Cientista de Conservação, Engenheira de Energia Renovável e Ativista Ambiental, feitas com plástico retirado dos oceanos. Esse incrível lançamento é uma parceria com o Instituto Jane Goodall, pesquisadora britânica pioneira no ativismo ambiental.

Fonte: Valor Investe