SUSTENTABILIDADE

Search
Close this search box.

Energytechs alavancam mercado de energia solar compartilhada

A capacidade de produzir energia solar no Brasil deve crescer 42% em 2023, segundo estimativa da associação setorial Absolar, chegando a 34 gigawatts (GW). Destes, 21,6 GW devem vir de pequenos e médios sistemas solares instalados nas casas de consumidores, pequenos negócios, propriedades rurais e prédios públicos – a chamada geração distribuída (GD) de energia.

Com a Lei 14.300 de 2022, que instituiu o marco legal da micro e minigeração de energia, os pequenos foram incentivados a buscar essa alternativa. O barateamento dos equipamentos ajudou, assim como novas soluções vindas das energytechs, startups que atuam no setor. Na ponta do lápis, é o desconto na conta de luz o principal chamariz – em média, de 10% a 20%. Os impostos e taxas de distribuição e iluminação pública continuam obrigatórios.

“É uma forma de democratizar o acesso”, diz Andre Dorf, CEO da Comerc Energia, empresa do grupo Comerc. A própria empresa, que começou fazendo negociação de compra e venda de energia de clientes no mercado livre, já tem 35 usinas próprias operando em Minas Gerais e Pernambuco, além de 68 outras unidades em construção para atender diretamente clientes de GD.

Dorf explica que o cenário de energia no Brasil tem movimentos importantes acontecendo, entre eles a descarbonização, ligada à transição para economia mais limpa; a digitalização, relacionada à mensuração do consumo em tempo real, eficiência, acompanhamento de processos e atendimento ao cliente; e a descentralização, ou seja, à colocação de energia no mercado. Com a economia em baixa e demanda controlada, não há muitos leilões públicos de compra de energia em vista. As geradoras, então, se voltaram ao mercado livre, onde as partes negociam livremente o fornecimento.

Nas três frentes, novos participantes estão chegando. Levantamento da plataforma de inovação Distrito mostra que os investimentos nas energytechs cresceram 134% entre janeiro e novembro de 2022 na comparação com 2021 todo. A categoria energias renováveis foi a que mais atraiu recursos, na casa dos US$ 276 milhões no período. A Órigo uma delas. A empresa opera 50 fazendas solares com capacidade instalada de 200 megawatt-pico (MWp), de onde vem energia para abastecer cerca de 60 mil clientes em um modelo de GD compartilhada.

“Nossas fazendas produzem créditos de energia. O cliente assina um plano com a Órigo de acordo com o seu consumo médio. A energia gerada pelas fazendas é injetada na rede da distribuidora, que desconta do consumo mensal dos clientes os créditos gerados pelo plano conosco”, explica Surya Mendonça, CEO da Órigo. O modelo pode ser comparado, diz, ao de streaming ou TV a cabo, com contratação digital. As fazendas estão em Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco. “Minas Gerais é um dos locais do mercado mais atrativo porque há disponibilidade de sol, o preço da energia é alto e tem uma disponibilidade grande de terras a preço acessível para serem arrendadas”, diz.

Fundada em 2017 com foco no aluguel de painéis solares para condomínios prediais, a Solar21 lançou em 2021 uma plataforma de energia solar por assinatura focando no modelo rooftop, em que os painéis são instalados nos telhados. Os clientes podem escolher planos de três, cinco ou 20 anos, com projeção de redução de até 30% na conta. “Com tecnologias proprietárias, hoje a Solar21 consegue monitorar as usinas solares nos diversos rooftops”, afirma Felipe Jun, responsável por Produto e Marketing da empresa. Os algoritmos próprios ajudam a identificar situações em que é preciso manutenção ou até problemas na geração, tudo à distância. A Solar21 se responsabiliza por reparos e manutenção. Nos planos agora está entrar no mercado corporativo. Ela acaba de firmar uma parceria com a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool para oferecer benefícios exclusivos nos planos de assinatura aos colaboradores, com expectativa de redução de até 30% na conta de luz.

Outra energytech com esse foco é a Lemon. Fundada em 2019, ela captou R$ 60 milhões em 2022 para expandir o serviço de GD, conectando geradores de energia sustentável a pequenas e médias empresas. No modelo, pessoas físicas e empresas se unem em cooperativas e consórcios e “alugam” uma usina de energia sustentável.

Para aderir à Lemon, o cliente precisa estar em um dos cinco Estados de cobertura (SP, RJ, MG, MS e DF) e gastar ao menos R$ 500 por mês na conta de luz. Depois, basta fazer um cadastro no site e esperar a aprovação. O desconto na fatura, de acordo com Rafael Vignoli, CEO e fundador, fica entre 10% e 20% e não é preciso fazer obras. “Com a forte expansão da GD, nossa matriz deve ficar cada vez mais descentralizada e descarbonizada, em direção de um futuro energético mais sustentável”, diz o executivo.

Mesmo empresas que atuam no tradicional serviço de instalação de placas fotovoltaicas em residências e pequenos negócios tem visto um aumento significativo da demanda. A Solstar, por exemplo, saltou de uma receita de R$ 8 milhões em 2018 para R$ 100 milhões em 2021 e fechou 2022 próximo dos R$ 200 milhões. Para 2025, segundo o CEO Matheus Bazan, a meta é de chegar a R$ 1,3 bilhão. O foco agora está em inovação – foram investidos R$ 5 milhões em um centro de pesquisas e desenvolvimento com foco em energia.

Fonte: Valor Econômico