SUSTENTABILIDADE

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Data Centers buscam equilibrar expansão com práticas sustentáveis

A tecnologia digital e a computação em nuvem desempenham um papel cada vez mais crucial no mundo dos negócios. A nuvem ajuda a diminuir custos, traz mais segurança, mais mobilidade, benefícios de escalabilidade e, portanto, deveria ser uma alternativa mais sustentável do que outros métodos de armazenamento e processamento de dados. No entanto, enquanto as companhias usuárias desses serviços ganham eficiência e poluem menos o meio ambiente, as provedoras dos serviços – os data centers – têm desafios extras para seguir parâmetros sustentáveis. Consumo de energia e gestão de resíduos estão entre os principais no campo ambiental, mas também há uma pressão crescente por maior diversidade nas equipes, boa parte de profissionais de tecnologia.

A popularização do uso da nuvem resultou em um aumento na demanda por data centers maiores espalhados pelo mundo. Essas instalações abrigam a infraestrutura de tecnologia da informação (TI) e servem para armazenar e gerenciar os dados associados a esses aplicativos e serviços, algo importante para empresas e indústrias. O crescimento da demanda por estes locais – e do número de máquinas rodando para satisfazê-la – contribui para o aumento no consumo global de energia.

Segundo o relatório Data Centers e Redes de Transmissão de Dados da Agência Internacional de Energia (IEA), os data centers consumiram cerca de 0,9% a 1,3% de toda a eletricidade demandada no mundo em 2021 – os dados excluem a energia usada para mineração de criptomoedas da conta. Os dados globais não são tão precisos, de acordo com a entidade, mas estima-se que, desde 2015, o volume consumido pode ter crescido até 60%. Quando adicionada à conta a energia necessária para a transmissão de dados, o segmento é responsável por quase 1% das emissões globais de Gases de Efeito Estufa (GEE) relacionadas à energia. Em países como a Irlanda e a Dinamarca, porém, o uso de eletricidade em data centers chega a 14% e 7% de toda a energia usada nos países, respectivamente.

A expectativa da IEA é que o crescimento da demanda pelos serviços de nuvens e outros oferecidos por essas empresas continue moderado nos próximos anos. Para tentar adequar sua expansão com a pressão por operações menos poluentes, alguns grupos estão investindo em eficiência. Essa pressão vem tanto de regulações mais rígidas em diversos países quanto da própria necessidade dos clientes dos data centers, especialmente grandes empresas, de serem mais sustentáveis. Os provedores de nuvem se enquadram no chamado escopo 3 do programa GHG Protocol (Greenhouse Gas Control), que se refere às emissões de terceiros, como o da cadeia de fornecimento.

Para Jean Jader Martins, diretor da Global Gate, empresa brasileira de tecnologia focada em nuvem, proteção de dados e cibersegurança, essa demanda parte de cada vez mais empresas, de todos os tamanhos, que estão preocupadas com as medidas ESG. “Algumas já exigem isso do fornecedor, outras ainda em sua jornada”, conta.

Segundo a pesquisa “CEOs estão prontos para financiar uma transformação sustentável”, divulgada pelo Google Cloud, serviço de armazenamento de dados em nuvem da empresa de tecnologia Google, em conjunto com a The Harris Poll, 67% das organizações no Brasil priorizam planos para reduzir o uso de energia ou migrar para energia renovável. Esse é o maior percentual registrado globalmente. Na França, por exemplo, apenas 55% dos executivos têm essa prioridade. O objetivo do levantamento era entender como executivos C-level enxergam a transformação de seus negócios por meio da sustentabilidade como prioridade para investimentos em 2022.

Dentre os clientes do Google Cloud que entenderam o serviço como um diferencial não apenas para ganho de eficiência, mas também para diminuição de consumo de energia e poluição, está a locadora de automóveis Movida. A empresa trabalha com a meta de reduzir 30% de suas emissões de carbono até 2030. Para isso, uma das ações foi migrar, em 2021, boa parte de seus sistemas para o serviço de armazenamento do Google. Só com esse movimento, de acordo com a companhia de tecnologia, a Movida deixou de emitir cerca de 610 toneladas métricas de gás carbônico (CO₂) em infraestrutura tecnológica, o que equivale ao uso de energia por mais de cinco mil casas no período. Outro cliente do serviço, a publicação National Geographic, conseguiu reduzir em cerca de 17 toneladas de CO₂ equivalente por ano suas emissões quando mudou sua biblioteca de fotos para o Google Cloud Platform.

Assim como outras empresas do setor, o Google está correndo atrás para minimizar seu impacto ambiental e de seus clientes. O primeiro passo foi dado anos atrás, quando começou a medir seu inventário de carbono até comprar créditos de carbono para mitigar o dano ao meio ambiente. Em 2020, conseguiu compensar todas as emissões de sua operação própria desde 2007. A empresa, desde 2017, compra energia de fontes renováveis no mercado livre no Brasil e assumiu, globalmente, o compromisso de, até 2030, ter todos os seus negócios operando com energia livre de carbono.

Conheça as três principais frentes de atuação das empresas de data center para serem mais sustentáveis:

1. Busca pelo aumento de eficiência energética

Segundo o relatório “Dez tendências tecnológicas que impulsionam a transformação em 2022” da 451 Research, parte da S&P Global Market Intelligence, as empresas do segmento de data center estão buscando inovações, algumas delas que também endereçam a sustentabilidade. Isso inclui, por exemplo, a compra de energia de baixo carbono e de fontes renováveis, o uso de um sistema de resfriamento mais eficiente (que também economiza água), e a melhoria dos métodos de construção das instalações físicas para reduzir emissões.

A provedora brasileira de serviços de data centers ODATA, que hoje pertence ao grupo americano Aligned Data Centers, por exemplo, realizou no ano passado seu primeiro inventário de carbono. A empresa mediu as suas emissões de gases de efeito estufa diretas, provenientes do consumo de energia elétrica e da cadeia de valor. Carolina Maestri, diretora de ESG e líder da área de EHS (Proteção Ambiental, Gestão da Saúde e Segurança, em português) na ODATA, conta que a empresa se comprometeu publicamente em reduzir as emissões em 23% até 2030, meta alinhada com o Acordo de Paris. Ela submete ainda suas ações e metas ao rígido crivo do CDP, organização sem fins lucrativos que administra uma plataforma global de divulgação ambiental para corporações. Além disso, a ODATA compra energia renovável tanto no Brasil quanto no exterior.

“Tomar medidas para reduzir o impacto ambiental é uma demanda dos nossos clientes, especialmente os globais, americanos e europeus, que já têm em sua estratégia os temas ESG e onde o nível de exigência é muito mais alto que costumamos ver na América Latina”, conta Maestri.

Mas não é só a troca da fonte de energia que resolverá o problema. Como o alto consumo de energia continua sendo uma grande questão no setor de data center, organizações estão migrando sua estrutura para sistemas que ofereçam uma maior eficiência energética.

No caso da Odata, por exemplo, em alguns locais frios, como o Chile, é usado o sistema “free cooling”, que aproveita a baixa temperatura exterior para fazer o resfriamento das máquinas, diminuindo o uso de compressores para manter o ar ambiente em temperatura baixa.

De acordo com o Relatório de Sustentabilidade de 2022 do Google, em média, um data center do empresa é duas vezes mais eficiente em termos energéticos do que um data center típico, ao mesmo tempo em que sua capacidade de computação é hoje cinco vezes maior do que há cinco anos. Isso é possível porque esses data centers usam muito menos energia que os data centers comuns.

Em uma postagem no site da empresa, Urs Holzle, vice-presidente sênior de infraestrutura técnica do Google, conta que os especialistas procuram a melhor solução de resfriamento para cada local e que, em muitos lugares, a água é o meio mais eficiente de resfriamento. “Estamos comprometidos em usar a água de forma responsável. Isso inclui o uso de alternativas à água doce sempre que possível, como águas residuais, águas industriais ou até mesmo água do mar. Utilizamos água reciclada (ou não potável) em mais de 25% de nossos campi de data centers, explica Holzle.

A empresa explica que os data centers refrigerados a água usam aproximadamente 10% menos energia e, consequentemente, emitem cerca de 10% menos carbono do que os refrigerados a ar. Em 2021, o resfriamento a água ajudou o Google a reduzir a pegada de carbono relacionada à energia em data centers em cerca de 300 mil toneladas de CO₂.

A busca por eficiência traz resultados financeiros. A Global Gate teve em média 9,5% de redução de custo operacional com os investimentos realizados em sistemas e certificações. Jean Jader Martins, diretor do provedor de soluções em nuvem da Global Gate, explica que esse custo operacional foi reduzido com a implementação do sistema de energia fotovoltaica, a certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) platinum. A empresa também produz 30% da energia que consome via geração fotovoltaica. “Do ponto de vista empresarial o número pode parecer pequeno, mas nós acreditamos que estes movimentos terão ainda mais impacto no futuro”, diz Martins.

2. Gestão do Lixo eletrônico

Outro desafio que as empresas de data center enfrentam e devem ter de lidar cada vez mais é o da gestão de lixo eletrônico. Segundo o relatório The Global E-waste Monitor 2020, da Organização das Nações Unidas (ONU), o mundo gerou 53,6 milhões de toneladas métricas (Mt) de lixo eletrônico em 2019, e apenas 17,4% disso foi oficialmente coletado e reciclado. A previsão é que o lixo eletrônico global chegue a 74 milhões de Mt até 2030.

Como esses materiais contêm aditivos tóxicos e substâncias perigosas, a exemplo do mercúrio, podem representar um risco à saúde das pessoas e do meio ambiente. Há ainda um desperdício de metais de alto valor, como ouro, prata, cobre, platina e outros, que também são usados nas máquinas.

Esse tipo de resíduo cresce alimentado principalmente por taxas altas de consumo de equipamentos elétricos e eletrônicos, ciclos de vida curtos e poucas opções de reparo. Devido ao ritmo de inovação do setor, muitos data centers se desfazem de equipamentos para colocar máquinas mais atualizadas e modernas em seu lugar. Essa modernização também vem em alguns casos para melhorar a eficiência energética.

Martins, da Global Gate, explica que os equipamentos são descartados com fornecedores que possuem certificação adequada para isso, o que garante que o material recolhido não impacte negativamente o meio ambiente. Parte do lixo é incinerado, servindo de combustível para a indústria, baterias são recarregadas e voltam para o mercado (como seminovas ou com um tempo de garantia menor) e demais equipamentos são compactados e descartados. “Quando entregamos os resíduos recebemos um documento fiscal e outro que comprova que a empresa passa a ser responsável pelo descarte conforme as normas vigentes e certificações que possui”, diz Martins.

Também segundo o Relatório de Sustentabilidade de 2022 do Google, a empresa conseguiu reaproveitar 78% dos seus resíduos em 2021. Além disso, 27% dos componentes usados para atualizações de servidores foram reformados. Só o Google Cloud reformou 4,9 milhões de componentes eletrônicos, que foram revendidos no mercado secundário para serem reutilizados por outras organizações.

3. Atenção à diversidade e inclusão

O retrato do setor de tecnologia observado no Relatório de Diversidade no setor TIC de 2021, realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscom), mostra um cenário que necessita de ações para o aumento da diversidade. Dos 1,1 milhões de profissionais em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), 61,4% são homens e 38,6% são mulheres. Porém, quando a ocupação de mulheres em relação aos cargos é analisada, a disparidade é bem maior.

A participação feminina é maior nas funções administrativas (63%), de vendas e marketing (52%) e elas possuem uma presença de apenas 20% nos departamentos de tecnologia. Em termos de raça, o grupo de brancos ainda é majoritário com 53% da empregabilidade no setor. Quanto aos profissionais com deficiência, eles são apenas 8,4 mil. Isso equivale a 0,02% do total de 45 milhões da população brasileira com deficiência. Diante desse cenário desafiador, algumas empresas estão promovendo mudanças.

A Teleperformance mantém uma parceria com a plataforma TransEmpregos (banco de vagas para pessoas Trans do Brasil). As oportunidades contemplam desde posições administrativas até agente de atendimento.

O Google divulga dados públicos sobre Diversidade, Equidade e Inclusão do mercado mundial e constatou um aumento global na contratação de mulheres para cargos de tecnologia: elas passaram de 32,5% em 2020 para 33,7% em 2021. Já o número de líderes femininas aumentou de 26,7% em 2020 para 28,1% em 2021. Em média, as mulheres têm menos probabilidade de deixar o Google, um padrão ainda mais forte para mulheres em áreas de tecnologia em comparação com 2020.

Além disso, desde o final de 2021, pessoas candidatas que se autodeclaram negras podem utilizar uma página de carreiras vagas chamada “Inclusão da Comunidade Negra” para encontrar vagas abertas em diferentes áreas, como Engenharia de Software, Google Cloud e Negócios.

Fonte: Valor Econômico